Ética da magistratura.
Antonio José
Ferreira dos Santos*
A palavra ética provém do grego ethos, que significa modo de ser,
caráter.
A Ética
busca aquilo que é bom para o indivíduo e para a sociedade.
A Ética
não brota espontânea. É fruto de um esforço do espírito humano para estabelecer
princípios que iluminem a conduta das pessoas, grupos, comunidades, nações,
segundo um critério de Bem e de Justiça.
O Bem e
a Justiça constituem uma busca.
Um dos
mais importantes desdobramentos da Ética refere-se à Ética das profissões. Toda
profissão tem sua ética. Vamos citar alguns exemplos. Seja o motorista
reservado quanto ao que ouve dentro do carro quando transporta seus clientes.
Seja o comerciante ético cobrando o justo preço pelas mercadorias que vende.
Seja o profissional da enfermagem ético tratando com respeito o corpo do
enfermo. Seja o advogado ético, fiel ao patrocínio dos direitos do seu cliente.
Seja o médico ético servindo à vida e procurando minorar o sofrimento humano.
E a
magistratura tem uma Ética? Obviamente que sim.
A
magistratura é mais que uma profissão. A Ética do Magistrado é mais que uma
Ética profissional.
A
função de magistrado é uma função sagrada. Daí a advertência do Profeta Isaías:
"Estabelecerás juízes e magistrados de todas as tuas portas, para que
julguem o povo com retidão de Justiça".
Somente
com o suplemento da Graça Divina pode um ser humano julgar.
A sociedade exige dos magistrados uma conduta exemplarmente ética. Atitudes que
podem ser compreendidas, perdoadas ou minimizadas, quando são assumidas pelo
cidadão comum, essas mesmas atitudes são absolutamente inaceitáveis quando
partem de um magistrado.
Tentarei
arrolar alguns princípios que suponho devam orientar a ética do magistrado:
1) A imparcialidade. Nada de proteger ou perseguir quem quer que seja. O juiz é
o fiel da balança, a imparcialidade é inerente à função de julgar. Se o juiz de
futebol deve ser criterioso ao marcar faltas, ou anular gols, quão mais
imparcial deve ser o Juiz de Direito que decide sobre direitos da pessoa.
2) O
amor ao trabalho. O ofício do juiz exige dedicação. A preguiça é sempre
viciosa, mas até que pode ser tolerada no comum dos mortais. Na magistratura, a
preguiça causa muitos danos às partes.
3) A
pontualidade, o zelo pelo cumprimento dos prazos. É certo que há um acúmulo
muito grande de processos na Justiça. O juiz não é o responsável por esse
desacerto mas, no que depende dele, deve esforçar-se para que as causas não
contem tempo por quinquênio ou decênio, como verberou Rui Barbosa. Se por
qualquer razão ocorre atraso, no início de uma audiência, o juiz tem o dever de
justificar-se perante as partes. Não pode achar que é natural deixar os
cidadãos plantados numa sala contígua, esperando, esperando, esperando.
4) A urbanidade. O magistrado deve tratar as partes, as testemunhas, os
serventuários e funcionários com extrema cortesia. O juiz é um servidor da
sociedade, ter boa educação no cotidiano é o mínimo que se pode exigir dele. A
prepotência, a arrogância, o autoritarismo são atitudes que deslustram o
magistrado.
5) A humildade. A virtude da humildade só engrandece o juiz. Não é pela
petulância que o juiz conquista o respeito da comunidade. O juiz é respeitado
na medida em que é digno, reto, probo. A toga tem um simbolismo, mas a toga,
por si só, de nada vale. Uma toga moralmente manchada envergonha, em vez de
enaltecer.
6) O humanismo. O juiz deve ser humano, cordial, fraterno. Deve compreender que
a palavra pode mudar a rota de uma vida transviada. Diante do juiz, o cidadão
comum sente-se pequeno. O humanismo pode diminuir esse abismo, de modo que o
cidadão se sinta pessoa, tão pessoa e ser humano quanto o próprio juiz.
7) Razão e coração. Julgar é um ato de razão, mas é também um ato de coração. O
juiz há de ter a arte de unir razão e coração, raciocínio e sentimento, lógica
e amor.
8) A função de ser juiz não é um emprego. Julgar é missão, é empréstimo de um
poder divino. Tenha o juiz consciência de sua pequenez diante da tarefa que lhe
cabe. A rigor, o juiz devia sentenciar de joelhos.
9) As
decisões dos juízes devem ser compreendidas pelas partes e pela coletividade.
Deve o juiz fugir do vício de utilizar uma linguagem ininteligível. É
perfeitamente possível decidir as causas, por mais complexas que sejam, com um
linguajar que não roube dos cidadãos o direito, que lhes cabe, de compreender
as razões que justificam as decisões judiciais.
10) O
juiz deve ser honesto. Jamais o dinheiro pode poluir suas mãos e destruir seu
conceito. O juiz desonesto prostitui seu nome e compromete o respeito devido ao
conjunto dos magistrados. Peço perdão às pobres prostitutas por usar o verbo
prostituir, numa hipótese como esta.
*Antonio José
ferreira dos Santos - Especialista em Direito Sanitário pela Unicamp e Saúde
Publica pela USP